Monteiro Lobato, um autor que tratava as crianças como pessoas inteligentes e não como seres inferiores e deficientes, incapazes de um raciocínio lógico. Foi este jeito de olhar que o fez ser tão bem-sucedido com o público infantil. Tatiana Belinky dizia que, no dia, que Monteiro Lobato encontrou pela primeira vez Júlio Gouveia, ficou surpreso com a semelhança física entre eles. Acredito que essa semelhança ia muito além da aparência física, havia uma identidade de almas. Júlio Gouveia na direção e Tatiana Belinky na elaboração dos textos conseguiam trazer para a TV um Monteiro Lobato sempre vivo! Estava na TV Bandeirantes, terminando de fazer a novela ‘OS MISERÁVEIS’, e fui convidada pelo Júlio, primeiro para fazer o Peter Pan em 1967 e depois, em 1968, para viver a Emília na nova produção do “Sítio do Picapau Amarelo”. Monteiro Lobato, Tatiana Belinky e Júlio Gouveia foram formadores culturais de suma importância para várias gerações. Valores éticos, morais e humanos, difundidos por personagens como Emília, Visconde de Sabugosa, D. Benta, Pedrinho e Narizinho, foram aprendidos por crianças e adolescentes de forma natural e leitura crítica que provocava a análise pessoal. Aquela programação de qualidade, que envolvia o telespectador com cultura e informação livre de quaisquer conceitos que não fossem o educacional no mais profundo sentido da palavra, está fazendo muita falta na programação televisiva atual, onde nossas crianças recebem informações e conceitos que nada tem a ver com nossa realidade. É importante resgatar essas informações que são deletadas tão rapidamente da memória social e agora revividas no livro “Desvendando o ‘Sítio do Picapau Amarelo’”, que analisa o seriado nas duas primeiras décadas da televisão no Brasil, de autoria de Thiago de Menezes, escritor, poeta e ator profissional, autor de outras obras que enfocam as décadas de 50 e 60.