“Se em certa altura

Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;

Se em certo momento

Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;

Se em certa conversa

Tivesse dito as frases que só agora, no meio-sono elaboro –

Se tudo isso tivesse sido assim,

Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro

Seria insensivelmente levado a ser outro também”

Fernando Pessoa – Poesias de Álvaro de Campos

É por falta de imaginação que os literatos e os artistas em geral vão procurar o fantástico fora da realidade, entre as nuvens. Pois ele está nas entranhas da terra mesmo, e é tão real quanto a matéria mais preciosa que dela se minera. Porque o fantástico não é uma violação das leis naturais, uma aparição que rompe o limite das possibilidades reais, ou mera projeção de uma mente desconectada do mundo real. Ele é uma visão mais ampla da realidade, contemplada diretamente por uma mente desperta, cujos sentidos não estão limitados por valores preconcebidos, hábitos e conformismos outros que a nossa cultura impõe.

Os textos contidos neste livro, desenvolvidos na forma de contos do realismo fantástico, na verdade, refletem as especulações do autor sobre a estrutura do universo, as leis naturais que o regem e o papel do homem nesse imenso enredo que a Mente Universal escreve diariamente. É com essa visão que ele deve ser lido. Talvez, em algumas das histórias e estórias nele enfeixadas, o leitor encontre as portas de ingresso no seu próprio universo paralelo, onde a parte da realidade que lhe falta para entender suas próprias contradições poderá se revelar em toda a sua extraordinária fascinação.