Os amantes da literatura têm um perpétuo enigma a persegui-los. De onde o escritor tira o que escreve? Suas histórias nascem do que conhece ou do que tem medo? Do que de fato viveu ou do que sonhou? Este livro tem 29 contos de Schirley Pinto e cada conto, a sua maneira, vê ou explica o mundo sob uma ótica diferente dos outros. Esse é o segredo, talvez o privilégio, seguramente o poder mágico (ou a maldição) que o escritor carrega, estranha cruz do suplício e do prazer. O escritor é o espectador único de grandes acontecimentos extraordinários como a gota de chuva resvalando na pétala da flor, novos colegas numa aula de idiomas, os muros altos e escuros de um convento de freiras nos arredores de uma cidadezinha do interior, perfumes súbitos, esqueletos no armário, a nudez. E esse fenômeno, a nudez, pode vir puro ou contaminado pelo calor do desejo, mas sempre nudez completa e total, com todas as letras que a imaginação permite. Schirley Pinto oferece essas maravilhas nestas páginas, sem arroubos, vagarosa, contando cada vez uma coisa, completa e total, contemplando-as e permitindo a contemplação.

Acho que  literatura autêntica é assim. A escrita de Schirley é assim. Ela nos ajuda a compreender o vasto e tempestuoso mundo das letras... e dos seres reais.

Tabajara Ruas

Escritor e roteirista, com 11 títulos publicados no Brasil, América Latina e Europa, e 12 roteiros de longas.