O livro A vida em dois tempos – Acidente Vascular Cerebral aborda todo o percurso, desde o ano do AVC, 2006, tratando em detalhes os cuidados, progressos e retrocessos e recursos criados pela autora e membros da família para conceder à mãe uma qua­lidade de vida dentro das limitações impostas pelas sequelas do acidente. Trata também das emoções e sentimentos da autora, re­latando suas alegrias, tristezas, indignação e esperança contínua para a recuperação de sua mãe.  O livro alia dimensões técnicas, na abordagem sucinta do que é um AVC, sua natureza isquêmica e hemorrágica a dimensões práticas, como pequenas “invenções” materiais que facilitaram o dia a dia de sua mãe e o seu. Revela aspectos afetivos e emocio­nais fortes e profundos, ao fazer reflexões e alertar o leitor para os riscos do destrato com os “sequelados”, destacando a importância de um tratamento humano, digno, operante de mudanças signifi­cativas no comportamento de quem sofreu um AVC. Coloca em evidência os riscos de se tratar o sujeito do AVC apenas como um organismo ou um “coitadinho lesado” e não como pessoa com di­reitos a serem respeitados e amplificados.  Por fim, é obra que trata da eminência da morte de um ser ama­do e de seu posicionamento frente a essa finitude. É obra escrita para somar aos demais livros sobre o tema, de um ponto de vista pessoal, íntimo, em que a autora não teme expor-se e nem a sua mãe, porque a exposição pública de tantos dados pessoais visa contribuir para minimizar sofrimentos e alavancar vidas em prol de maior desenvolvimento saudável, dentro de um quadro de se­quelas mais ou menos graves de quem viveu um AVC. É obra es­tritamente pessoal, reveladora da intimidade do dia a dia de uma filha ao cuidar de sua mãe com todos os recursos que tinha como pessoa, incluindo os que adquiriu em sua profissão como psicólo­ga e professora de Psicologia do Desenvolvimento Humano.